Estou
hoje há trinta dias em casa. Nesse tempo, saí somente duas vezes
para ir ao mercado, muito rapidamente.
Estou
com o privilégio de poder trabalhar em casa. Alguns contratempos
técnicos para quem não é nativo digital como eu, mas nada que
cause sofrimento.
Ontem,
com a casa toda aberta, vi o sol entrando pela janela do banheiro e
se esparramando pelo corredor tão lindamente! Meu coração se
encheu de alegria e de ternura pela minha casa. Casa de gente, casa
de gatos, casa de cachorros, casa de orquídeas e de tantas plantas,
casa que acolhe a quem nela chega.
Fiquei
refletindo sobre o conceito de casa, na minha ótica. Temos a grande
casa que é a nossa Nave Mãe Terra que nos leva pelo espaço
sideral. Temos nosso país, nosso estado, nossa cidade, nossa
casa-residência e com todas
elas
a nossa identidade.
Acredito
que todos estejamos ressignificando nosso conceito de casa.
Sempre
pensei em casa como lugar onde a gente possa se sentir bem. Hoje está
sendo muito mais: hoje é o lugar onde todos podemos e devemos nos
cuidar.
Para
mim casa tem um sentido mais profundo ainda: casa é onde posso ficar
longe de sons, de aparelhos ligados, é onde posso ouvir minha
respiração, meus batimentos cardíacos, meu imenso silêncio. Só o
fato de estar em casa já é uma outra dimensão, é como um estado
meditativo.
No
entanto,
temos que falar sobre o cuidado. A origem da palavra é latina, do
termo cogitare
e cura
e
se
refere diretamente ao cuidado do corpo e do espírito. Também
tem o sentido de reflexão, atenção, cautela. Que bom que temos a
possibilidade de nos cuidar! É só fazermos a nossa parte, ficarmos
em isolamento social usarmos máscaras, álcool gel e seguirmos as
determinações dos nossos governantes!
Já
tivemos tantas pandemias na história da humanidade: a peste negra, a
varíola, o
cólera, a
gripe espanhola, a poliomielite, a febre amarela no Brasil, a
gripe suína.
Também
na literatura tivemos obras que relatam períodos de pandemias.
Uma
delas, o Cândido
de Voltaire, onde
o jovem com seu mestre Dr. Pangloss, passa por grandes peripécias,
chega a um reino assolado por uma peste, onde conseguem a cura para o
povo e também uma vida melhor. Embora o
romance se caracterize como uma sátira às ideias de Leibnitz é uma
das obras mais conhecidas de Voltaire.
A
outra, A
Peste
de
Albert Camus, que
se passa numa pequena cidade da costa argelina em 1940, onde ratos
saem dos subterrâneos e morrem na cidade, e as pessoas passam a
contrair a doença e também a morrer. Nessa obra, o protagonista é
o médico Dr. Rieux que
luta até que a peste se dissipe.
Outra
obra que me ocorre é Ensaio
sobre a Cegueira
de José Saramago e narra a história da epidemia de cegueira branca
que se espalha por uma cidade, causando um grande colapso na vida das
pessoas e abalando as estruturas sociais.
Essas
obras falam sobre a nossa condição humana, nossa fragilidade e
transitoriedade.
Com
certeza, temos que repensar nossas atitudes em todos os sentidos e
nossa responsabilidade em face às consequências advindas delas.
Por
isso, no momento presente, em que a maior coisa que nos está sendo
cobrada é que nos cuidemos, tenhamos todos a responsabilidade de nos
cuidar e assim também cuidar dos outros. Fiquemos em nossas casas!
Tenhamos alteridade. #fiqueemcasa #usemáscara