domingo, 17 de agosto de 2025

Infinitamente Mulher - Volume 3


 




Historicamente, a mulher foi relegada a um segundo plano, até porque a própria história foi vista e escrita sob uma ótica masculina, embasada em relações de gênero, classe social, etnia e poder.

         Até pouco tempo, não havia uma história do ser humano, mas uma centrada nos gêneros, onde o homem era o ator.

         O movimento feminista dos anos 60 foi o ponto de partida  para uma nova escritura da história, onde as mulheres passaram de senhoras do lar e  meras procriadoras para a condição de agentes de suas vidas, heroínas de suas famílias, demonstrando toda a sua capacidade de atuação dentro da sociedade.

         Nesse contexto, a cidade de Santiago se sobressai contradizendo a história pregressa, acolhendo o talento feminino, valorizando as mulheres desta terra, com a edição do terceiro volume da Antologia Infinitamente Mulher.

         Esta antologia se consolida como um espaço democrático de cultura, publicando poemas, contos, crônicas escritos exclusivamente por mulheres, ensejando os festejos do Dia Internacional da Mulher.

         Como Terra dos Poetas e com uma Rua dos Poetas onde a maioria dos homenageados são homens, esta publicação surge como um resgate do talento feminino santiaguense, oportunizando a que mulheres de todas as idades, classes, etnias possam publicar seus escritos e assim fazer parte da história literária de nossa cidade.

         E no dizer de Erilaine Perez: “Uma antologia de alma feminina. São textos nem sempre eruditos, mas que contam um pouco da alma da mulher. A intenção, portanto, não é a de figurar na lista dos 'best-sellers', mas de fazer uma fotografia do cotidiano feminino de nossa época, partindo do olhar de mulheres diversas. Uma iniciativa histórico-social muito válida.”

                

domingo, 25 de maio de 2025

Infinitamente Mulher - Volume 2


 




Logo após o lançamento do volume 1 da Antologia Feminina Infinitamente Mulher, que ocorreu em 08 de março de 2012 na Estação do Conhecimento, a então coordenadora do Centro Materno Infantil, Sra. Gisélle Kolinski Ribeiro, procurou a mim e ao Márcio Brasil, solicitando que já planejássemos a edição do volume 2 para o ano seguinte.

Assim fizemos !

E no dia 08 de março de 2013, tamabém no largo da Estação do Conhecimento, foi lançado o volume 2 da Antologia Feminina Infinitamente Mulher, contando com textos de quarenta mulheres, todas santiaguenses ou aqui residentes.

As mulheres começam a fazer história na literatura santiaguense!

Seguimos!

terça-feira, 4 de março de 2025

Como nasceu a Antologia Feminina Infinitamente Mulher


 







Era o Outubro Rosa de 2011. As pessoas que chegavam no meu trabalho falavam do meu poema que estava na frente da Prefeitura, no túnel rosa.

Num final de tarde, eu e minha filha Nuraciara fomos até lá para ver. Fiquei encantada com o trabalho primoroso feito pelo Centro Materno Infantil através de sua coordenadora, Gisélle Kolinski Ribeiro e pelo Departamento de Cultura, através de seu coordenador, Rodrigo Neres. Havia o túnel rosa decorado com banners que continham uma foto e um poema de nove escritoras.

Mas lá éramos somente nove escritoras! E somos tantas mulheres!

Em outro dia, também num final de tarde, a Casa do Poeta se reuniu numa lancheria em frente ao Colégio Apolinário Porto Alegre, de nome  Hora Extra. Nessa ocasião falamos sobre o túnel e eu falei para o Márcio Brasil, presidente da Casa do Poeta na época, que o ideal era fazermos uma antologia só de mulheres, para homenageá-las pelo seu dia.

Conversamos. O Márcio achou ótima a ideia, mas tinha o custo. Então ele foi em busca da parceria com o Centro Materno Infantil para a impressão do livro e conseguiu.

Tivemos dúvida sobre o título da antologia. O Márcio Brasil escolheu o título Infinitamente Mulher.

Foi feito um edital e cinquenta e cinco mulheres tiveram seus textos selecionados e publicados na primeira edição.

Todo o trabalho de divulgação do edital, recepção dos textos, seleção, correção, diagramação foi feito desde a primeira edição de forma voluntária pelos integrantes da Casa do Poeta, bem como a organização do evento de lançamento.

A capa do livro desde o primeiro volume foi feita por uma artista santiaguense. A apresentação também é feita por uma mulher, a revisão ortográfica, a diagramação. Enfim, é um livro todo feminino.

Depois, o Professor Ronaldo Prestes Gomes foi eleito presidente da Casa do Poeta e deu continuidade ao projeto da antologia feminina. Também continuou a parceria com o município de Santiago, que teve na professora Mara Rebelo uma grande incentivadora e parceira.

Num mundo de efemeridades, chegamos ao volume 14, quatorze anos da antologia feminina Infinitamente Mulher, que é um espaço de expressão para a voz feminina em nossa cidade, como para o que compreendemos como feminino na nossa sociedade. A antologia comporta textos de todos os gêneros literários, de mulheres de todas as idades.

É um trabalho colaborativo entre uma entidade privada e um ente federativo, o que causa admiração nos lugares onde levamos a antologia e nas feiras do livro.

A mim cabe a alegria de ter visto uma ideia minha tomar forma e ter prosseguimento, com empenho de tantas pessoas por tão longo tempo, pelo que sou muito grata! O sentido que eu queria está sendo alcançado quando cada vez mais mulheres participam com seus escritos da antologia.

Que continuemos infinitamente!


terça-feira, 16 de junho de 2020

Bloomsday e algumas anotações sobre o Ulisses de James Joyce



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Sobre o BLOOMSDAY


Comemorado em 16 de junho é o dia instituído na Irlanda para homenagear o personagem Leopold Bloom,  protagonista de Ulisses, de James Joyce. Em todo o mundo, é o único dia dedicado ao personagem de um livro.
Bloomsday é comemorado na Irlanda e pelos amantes da literatura com diversos eventos oficiais e não oficiais. Também é comemorado todos os anos em vários lugares e em várias línguas. Em comum entre os muitos dedicados entusiastas e simpatizantes envolvidos nestas comemorações há o esforço por relembrar os acontecimentos vividos pelos personagens de Ulisses pelas dezenove ruas da cidade de Dublin em 19 horas do dia 16 de junho de 1904.
Há alguma controvérsia sobre o ano em que o Bloomsday começou a ser comemorado. Alguns especialistas indicam 1925 (três anos após o lançamento do livro); outros afirmam que foi na década de 1940, logo após a morte de Joyce, enquanto a hipótese mais aceita indica que foi em 1954, na data do quinquagésimo aniversário do dia retratado em Ulisses.
Hoje o Bloomsday é uma efeméride inserida no calendário cultural de vários países e não se restringe ao círculo de leitores da obra (de aproximadamente 900 páginas).




Sobre ULISSES de James Joyce
Fonte: O que importa em Oracy – Fátima Friedriczewski


Sem uma atenta leitura da Odisséia de Homero, torna-se quase impossível a leitura de Ulisses, pois esta é uma paródia da primeira.
A ação de Ulisses transcorre em Dublin num único dia, o dia 16 de junho de 1904, mais especificamente, em 19 horas desse dia.
A obra é narrada através de um prelúdio em três partes, um núcleo de doze capítulos e um final também tripartido. Ao todo formam 18 partes.
O número três é GHIMEL, a realização. As doze partes do núcleo são representadas por LAMED, o sofrimento. As 18 partes do todo correspondem a TSADE, ao arcano 18, que significa o inimigo oculto, a traição.
A divisão ternária, em perfeita simetria, evoca as significações cabalísticas do três. Estudos recentes de linguística, com auxílio de computador, dão ULISSES como a obra de estrutura matematicamente mais perfeita de toda a literatura.
Consta que Joyce utilizou o Denário Cabalístico de Kircher para a consecução das correspondências.
A linguagem utilizada por Joyce, que vai do poema à ópera, do sermão à farsa, contém não apenas termos usuais – da prosa clássica a mais grosseira gíria, mas também neologismos criados pelo autor, com base em seus conhecimentos de latim, grego, sânscrito e idiomas modernos.
ULISSES faz um paralelo com a Odisséia de Homero: Joyce cria uma viagem experimental ao mundo de hoje, obtendo vigorosa síntese de suas descobertas científicas, seus problemas sociais, religiosos, estéticos, sexuais.
No entanto, a Odisséia é composta de 24 partes ou cantos, e Ulisses, tem 18 partes.
As personagens centrais correspondem aos protagonistas da epopeia grega: Molly Bloom, esposa do herói, é Penélope; Stephen Dedalus é Telêmaco; Leopold Bloom é Ulisses.
Na obra de Homero, encontramos as aventuras de um herói, Odisseu. Há também sua esposa Penélope, que se manteve fiel ao marido, aguardando-o mesmo com o assédio de vários pretendentes. Completando, há Telêmaco, em constante busca pelo pai Odisseu.
Em paródia à obra de Homero, encontramos no romance de Joyce um marido traído (Leopold Bloom) que vive procurando por seu filho (Stephen Dedalus), uma filha que mora num internato e uma mulher infiel (Molly Bloom), que comete adultério naquele dia.
Na visão joyceana, a imagem de Ulisses é a de um ser arrasado, traído pela mulher, totalmente diverso do invencível herói criado por Homero.
O romance é considerado uma paródia moderna, na qual há o predomínio da auto-reflexividade. Neste tipo de literatura, há uma reativação do passado (no caso, a obra de Homero), dando-lhe um novo contexto e ressaltando a diferença de duas épocas.

Poema de Oracy Dornelles em homenagem a ULISSES de James Joyce:


encanto de Ulisses

                                 Oracy Dornelles


eu era
tu eras
ele ezra


eu ponho
tu pões
ele pound


eu gemo
tu gemes
ele james


eu oiço
tu ouves
ele joyce


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sábado, 18 de abril de 2020

Quarentena: #fiqueemcasa #usemáscara

Estou hoje há trinta dias em casa. Nesse tempo, saí somente duas vezes para ir ao mercado, muito rapidamente.

Estou com o privilégio de poder trabalhar em casa. Alguns contratempos técnicos para quem não é nativo digital como eu, mas nada que cause sofrimento.

Ontem, com a casa toda aberta, vi o sol entrando pela janela do banheiro e se esparramando pelo corredor tão lindamente! Meu coração se encheu de alegria e de ternura pela minha casa. Casa de gente, casa de gatos, casa de cachorros, casa de orquídeas e de tantas plantas, casa que acolhe a quem nela chega.

Fiquei refletindo sobre o conceito de casa, na minha ótica. Temos a grande casa que é a nossa Nave Mãe Terra que nos leva pelo espaço sideral. Temos nosso país, nosso estado, nossa cidade, nossa casa-residência e com todas elas a nossa identidade.

Acredito que todos estejamos ressignificando nosso conceito de casa.

Sempre pensei em casa como lugar onde a gente possa se sentir bem. Hoje está sendo muito mais: hoje é o lugar onde todos podemos e devemos nos cuidar.

Para mim casa tem um sentido mais profundo ainda: casa é onde posso ficar longe de sons, de aparelhos ligados, é onde posso ouvir minha respiração, meus batimentos cardíacos, meu imenso silêncio. Só o fato de estar em casa já é uma outra dimensão, é como um estado meditativo.

No entanto, temos que falar sobre o cuidado. A origem da palavra é latina, do termo cogitare e cura e se refere diretamente ao cuidado do corpo e do espírito. Também tem o sentido de reflexão, atenção, cautela. Que bom que temos a possibilidade de nos cuidar! É só fazermos a nossa parte, ficarmos em isolamento social usarmos máscaras, álcool gel e seguirmos as determinações dos nossos governantes!

Já tivemos tantas pandemias na história da humanidade: a peste negra, a varíola, o cólera, a gripe espanhola, a poliomielite, a febre amarela no Brasil, a gripe suína.

Também na literatura tivemos obras que relatam períodos de pandemias.

Uma delas, o Cândido de Voltaire, onde o jovem com seu mestre Dr. Pangloss, passa por grandes peripécias, chega a um reino assolado por uma peste, onde conseguem a cura para o povo e também uma vida melhor. Embora o romance se caracterize como uma sátira às ideias de Leibnitz é uma das obras mais conhecidas de Voltaire.

A outra, A Peste de Albert Camus, que se passa numa pequena cidade da costa argelina em 1940, onde ratos saem dos subterrâneos e morrem na cidade, e as pessoas passam a contrair a doença e também a morrer. Nessa obra, o protagonista é o médico Dr. Rieux que luta até que a peste se dissipe.

Outra obra que me ocorre é Ensaio sobre a Cegueira de José Saramago e narra a história da epidemia de cegueira branca que se espalha por uma cidade, causando um grande colapso na vida das pessoas e abalando as estruturas sociais.

Essas obras falam sobre a nossa condição humana, nossa fragilidade e transitoriedade.
Com certeza, temos que repensar nossas atitudes em todos os sentidos e nossa responsabilidade em face às consequências advindas delas.

Por isso, no momento presente, em que a maior coisa que nos está sendo cobrada é que nos cuidemos, tenhamos todos a responsabilidade de nos cuidar e assim também cuidar dos outros. Fiquemos em nossas casas! Tenhamos alteridade. #fiqueemcasa #usemáscara

domingo, 29 de março de 2020

Para depois de amanhã - poema



Para depois de amanhã


Causar … a flor do dia
um macerado de sonhos
feito à mão
- dedos de sol da manhã

Causar … a flor o perfume
o mel à abelha
o néctar ao beija-flor

Causar… um silêncio
que paira no ar
um vento sestroso
se esgueira entre folhas

Asas de pétalas
esperam mudanças
para depois de amanhã
causar…
um abraço suspenso entre os braços
na fixidez do espaço
até este tempo passar …


Fátima Friedriczewski em 29/03/2020

Quarentena


Quando eu era criança (e isto faz muito, muito tempo), eu lia uma revista em quadrinhos de ficção científica, toda em preto e branco e só a capa era colorida. Nem lembro o nome. Mas lembro algumas histórias. Uma delas, em especial, contava sobre um acontecimento em que as pessoas tinham adormecido à noite, e no outro dia quando acordaram, o mundo estava completamente diferente, não era mais o mesmo.

O momento presente tem me feito pensar sobre isto e refletir sobre muitas coisas. Depois de isto ter passado, seremos os mesmos? O mundo ainda será o mesmo ou estará diferente? Por que isto está acontecendo?

Não falo em culpar aos outros, a ninguém. Sempre falo que se não nos oportunizarmos reconhecer nossos erros (isto serviu para mim, serve para todos nós), não faremos em nós as mudanças necessárias para que nos tornemos pessoas melhores, seres melhores.

De outro modo, também reflito que se algo está para atacar nossa vida física, será que não é por que estamos descuidando do nosso interno?

Da mesma maneira, reflito sobre nossa relação com o mundo, com o planeta. Tanto eu como uma infinidade de protetores de animais somos tidos como loucos, que cuidam de bichos e não de pessoas.

No entanto, repito, muitas vezes, que o início da nossa evolução como seres humanos se dá quando mudamos o nosso olhar e nossas atitudes em face aos animais e quando nos alegramos sinceramente com as vitórias de nossos amigos e de outras pessoas.

Em mais de uma década como militante da causa animal através da ACPA (Associação de Conservação e Proteção aos Animais de Santiago/RS), tenho ouvido reiteradamente a Dra. Eva Maristane Rodrigues Muller falar que cuidar e respeitar aos animais é uma questão de saúde pública e não loucura de protetor.

Assim como o outono faz quedar as folhas da magnólia ao mesmo tempo em que germina o botão da futura flor que alegrará a primavera, desejo sinceramente que esta quarentena seja para todos nós um momento de autoconhecimento, de amor incondicional, de auto-educação para novas e seguras formas de convívio social, de abertura para mudanças para um novo olhar para nossa relação com a nossa grande nave-mãe Terra e, principalmente, com a nossa essência.

Fátima Friedriczewski em 29.03.2020