domingo, 24 de abril de 2011

"Setas para o infinito" de Erilaine Perez

Recebi um email de ano novo, dia 31/12/2010, da minha amiga Erilaine, com uma crônica sua, que gostei tanto, tanto, pois diz uma porção de coisas que sinto e traduz muito bem esses sentimentos, que sempre a releio por sua beleza e verdades. E agora compartilho com os leitores deste blog, transcrevendo-a a seguir:        


"SETAS PARA O INFINITO


Guardo a lembrança de que, quando era criança, pensava o que e como eu seria no ano 2000. Aliás, essa foi uma data carregada de presságios e mistérios para muita gente. Todos aguardaram com certo receio a virada do milênio, mas nada de anormal ocorreu. Também eu ainda não havia alcançado todos os desejos de menina. Passados quase onze anos do tão esperado BUG, diferente das expectativas primeiras, considero ser capaz de possuir algumas certezas. Os desejos, talvez nunca se realizem. A aparência caminha no sentido contrário ao das primaveras (denotativa e conotativamente). Todavia, permanece o mesmo instinto de renovação. Continuamos a andar em busca de novas coisas, mesmo depois de conseguirmos a meta intencionada. Voltamos ao ponto de partida, ou partimos da última conquista na direção de novas. Entretanto, um fato totalmente inesperado muda toda a rota quase sem que percebamos. Já não somos mais meninos. O tempo já não transcorre da mesma forma e isso conta pontos contra o nosso favor. Ainda assim, gosto de imaginar (como nos tempos de menina) que, colocada de costas para o mostrador do imenso relógio (que repousa nalguma estação perdida), os braços abertos, como grandes ponteiros, sinalizam, pontualmente, dezesseis horas. Os pés, por enquanto, firmam a passagem vagarosa dos minutos, como preguiçosos segundeiros. O braço esquerdo, dono de toda razão, segura forte a hora mestra, como a afirmar que a derradeira, ainda não é para agora. O direito, aponta para um rumo que intermedia as retas secas demais. A precisão é diferente. De asas de borboleta. Encontro-me, portanto, na vantajosa posição da meia-tarde da existência. Posso sentir o calor dourado do dia sem nenhum agravo e planejar o chá das cinco. Posso, ainda, desfrutar o privilégio de assistir a muitas partidas e chegadas do trem das seis. Viajar nele, se quiser. Ano que vem. Daqui dois anos. Até que a corda se rompa nas engrenagens do relógio ou que os ponteiros afrouxem no último minuto. Livres da tarefa de contar o tempo, talvez se tornem asas. Setas para sonhar com os dias infinitos.

--EMAIL DO DIA 31/12/2010

Erilaine Perez
Produtora Textual"

Um comentário:

  1. Obrigada Fátima!A maior alegria é que gostes dos meus escritos. Eles são feitos pela pena do meu coração.
    Abraços fraternos.

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