quarta-feira, 7 de dezembro de 2011

O escárnio de Augusto dos Anjos

Às vezes as pessoas ( e estou falando das pessoas em geral, nas mais diversas situações da vida) são tão desleais conosco, traem-nos descaradamente, troçam da nossa pessoa, debocham , riem, que até estive pensando num poema que falasse disso. E me veio à memoria os Versos Íntimos de Augusto dos Anjos, que transcrevo a seguir:

Versos Íntimos

      Augusto dos Anjos

Vês! Ninguém assistiu ao formidável
Enterro de tua última quimera.
Somente a Ingratidão - esta pantera -
Foi tua companheira inseparável!

Acostuma-te à lama que te espera!
O Homem, que, nesta terra miserável,
Mora, entre feras, sente inevitável
Necessidade de também ser fera.


Toma um fósforo. Acende teu cigarro!
O beijo, amigo, é a véspera do escarro,
A mão que afaga é a mesma que apedreja.


Se a alguém causa inda pena a tua chaga,
Apedreja essa mão vil que te afaga,
Escarra nessa boca que te beija!


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Lindo, não ?

O poema acima foi incluído no livro "Os Cem Melhores Poemas Brasileiros do Século", organizado por Ítalo Moriconi para a Editora Objetiva - Rio de Janeiro, 2001, pág. 61.


E uma grande lição: apedrejar a mão que nos afaga e escarrar na boca que nos beija. E por que não ? Não fazem o mesmo com a gente ?

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